Procura por administradores que não são moradores para gerir os condomínios é cada vez maior. Vida corrida de condôminos abre espaço maior para contratações
Tendência no Rio de Janeiro, a contratação dos síndicos profissionais aos poucos vai ganhando mais adeptos nos condomínios niteroienses. Com a vida corrida e a complexidade cada vez maior na administração de edifícios, ter um profissional dedicado apenas a cuidar das rotinas dos prédios deve se tornar mais frequente. É muito comum que, durante a assembleia, poucas pessoas se interessem em assumir o cargo, e a decisão pela contratação do profissional pode ocorrer naturalmente.
Entre as vantagens apontadas por especialistas está a maior independência do síndico contratado em relação aos moradores. De acordo com o vice-presidente para assuntos condominiais do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio), Leonardo Schneider, o profissional tem mais isenção para intermediar conflitos dentro do edifício.
“Como é uma pessoa de fora, fica mais fácil para cobrar e fazer cumprir o regimento interno. É muito mais fácil para ele notificar um morador, já que não está diariamente se relacionando com os condôminos. E por isso também a tendência é de que não haja favorecimento para este ou aquele morador do prédio”, avalia Schneider.
O vice-presidente do Secovi-Rio também lembra que nem sempre o síndico profissional é a melhor opção, visto que, se um “morador tem o perfil adequado para ser síndico, não se deve contratar um profissional achando que a gestão vai melhorar”. Segundo ele, a maior parte dos síndicos é de pessoas que já atuaram na função no próprio condomínio e ao se aposentarem acabaram se tornando profissionais. É o caso da professora Marcia Oliveira. Ela se aposentou da profissão em 2002, mas só começou a atuar como síndica a partir de 2009. Hoje, ela cuida de três condomínios na Zona Sul da cidade.
“Eu tinha uma vivência de décadas porque sempre participei das assembleias nos meus condomínios, fiz parte dos conselhos fiscais e fui síndica algumas vezes. E como sempre gostei dessa área, acabou sendo um caminho natural. A partir do boca a boca, as pessoas foram me chamando para os outros condomínios”, diz Marcia.
A professora cuida de três edifícios, mas revela que não aceita mais ocupar o cargo no próprio condomínio, pois o relacionamento é mais complicado e as pessoas “olham com a cara feia a cada reclamação que recebem”. A aposentada destaca que não basta ter um bom relacionamento interpessoal e tempo disponível, é preciso capacitação. Ela explica que está sempre em busca de aperfeiçoamento e anda com o Código Civil debaixo do braço.
Leonardo Schneider lembra que a complexidade da administração dos condomínios requer maior especialização.
“A função de administrar um condomínio está se tornando muito complexa devido às exigências legais cada vez maiores. Para ajudar os condomínios, o Secovi promove periodicamente cursos de aperfeiçoamento nos quais oferecemos qualificação nas áreas financeira, administrativa e jurídica para os síndicos”, conta o vice-presidente do Secovi-Rio.
Para se ter uma ideia, os condomínios estão sujeitos a enviarem declarações contábeis próprias de empresas, como a Caged, a Rais e a Dirf, por exemplo. E em breve entrará em vigor a certificação digital.
Outro aposentado que assumiu a função de síndico profissional foi Alberto Machado. Segundo ele, cuja a formação é em eletromecânica, a nova ocupação é uma oportunidade também para garantir um rendimento extra. Machado conta que a remuneração depende da quantidade de unidades e da infraestrutura de cada condomínio.
“Em geral, a remuneração de um síndico profissional vai ficar na faixa entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil. Mas se for um condomínio com mais unidades e opções como área de lazer, sauna entre outros, esse valor pode aumentar um pouco”, revela Machado.
Outro ponto que causa dúvidas é a presença do profissional no edifício. Geralmente, há um cronograma que define quantas vezes por semana o síndico deve comparecer ao condomínio. O mais comum é que sejam três vezes, como é o caso de Alberto Machado. No entanto, a aposentada Marcia Oliveira prefere não estabelecer dias e horários marcados.
“A gente nunca sabe quando as coisas vão acontecer. Não adianta fazer plantão. Eu tenho três linhas telefônicas pelas quais os funcionários e alguns moradores podem entrar em contato comigo a qualquer momento”, diz ela.
Marcia lembra também que o síndico profissional não tem responsabilidade de intermediar desentendimentos entre os condôminos como brigas por causa de reuniões e festas com som considerado alto pelo vizinho.
“Nesses casos, a pessoa incomodada deve reclamar com o vizinho. Como síndica, eu não tenho obrigação de intervir. Mas é claro que o síndico tenta negociar. Eu vou entrar apenas a partir do momento em que se tornar um problema para vários moradores”, expõe.
Segundo Leonardo Schneider, a decisão de contratar um síndico profissional deve partir de uma assembleia ordinária. A partir daí, o condomínio deve selecionar o profissional mais adequado e ratificar a escolha em outra reunião.
“É imprescindível que haja uma assembleia para a homologação do nome do síndico profissional, dando maior legitimidade a ele para exercer a função na medida em que será o responsável legal pelo condomínio, com poderes de multar, demitir e admitir funcionários”, completa.
Fonte:
O FLUMINENSE